terça-feira, 4 de maio de 2010

Cientistas recriaram sangue de mamute


Equipa de canadianos e australianos conseguiu pela primeira vez ressuscitar proteína de sangue de mamute e percebeu que o frio não afectava a sua acção.

Não foi espetar uma agulha no mamute e retirar uma amostra de sangue, mas o efeito acabou por ser o mesmo. Depois de sete anos a desenvolver a técnica necessária, cientistas canadianos e australianos conseguiram pela primeira vez trazer de novo à vida proteínas de sangue de mamutes mortos há mais de 25 mil anos.


Só por si, foi uma proeza. Mas esta foi também uma descoberta do tipo dois em um: ao analisar a hemoglobina daquela espécie extinta, a equipa conseguiu perceber por que motivo os mamutes não tinham frio.

Num artigo publicado na edição deste mês da revista Nature Genetics, a equipa liderada por Kevin Campbell, da universidade canadiana de Manitoba, e por Alan Cooper, que dirige o Australian Centre for Ancient DNA, na Universidade de Adelaide, Austrália, explica como fez para ressuscitar o sangue de mamute, de forma a poder analisá-lo.

A ideia partiu de Kevin Campbell, que propôs a Alan Cooper que trabalhassem juntos. Este aceitou, mas como explicou ao ABC News da Austrália, a princípio não acreditou que a ideia pudesse funcionar. Alan Cooper acabou por se enganar.

Para recriar a hemoglobina dos mamutes, os investigadores retiraram ADN (informação genética) dos ossos de três animais que foram encontrados no permafrost (solo permanentemente gelado) da Sibéria e que viveram há entre 25 mil e 43 mil anos. Depois converteram as sequências de ADN em sequências de ARN (ácido ribonucleico, que codifica nas células a ordem para a produção de proteínas). Neste caso, os investigadores obtiveram o código para a produção da hemogobina que, no sangue (nos glóbulos vermelhos), tem por função fazer o transporte do oxigénio para os tecidos.

Em seguida, a equipa ins- talou esse ARN em bactérias E. coli que obedientemente passaram a funcionar como fábricas para a produção da hemoglobina de mamute.

"Foi como se tivéssemos viajado até há 30 mil anos, para podermos espetar uma agulha no mamute e lhe retirar o sangue", explicou Alan Cooper, sublinhando que "isto é verdadeiramente paleobiologia, uma vez que podemos estudar como estes animais funcionavam, como se ainda fossem vivos hoje".

Com essa hemoglobina fresca nas mãos, os investigadores trataram então de analisá-la. E o que descobriram foi que ela tinha alterações que lhe permitiam transportar o oxigénio sem problemas em condições de frio intenso. Algo que não acontece no nosso sangue, por exemplo. Ou no sangue dos elefantes, os primos modernos dos mamutes. Em condições de temperaturas muito baixas , a hemoglobina move-se de forma muito lenta e não consegue fazer o transporte das moléculas de oxigénio de forma eficiente, o que pode levar à morte.

O sangue dos mamutes estava, portanto, adaptado ao frio: a sua hemoglobina não era sensível a ele. Os cientistas pensam que as alterações que encontraram, e que permitiram essa adaptação da espécie à vida no Árctico, há milhares de anos, surgiram depois de o antepassado comum dos mamutes e dos actuais elefantes (que era originário da África central) ter migrado para norte, há dois milhões de anos. Graças a essas alterações genéticas, o sangue não gelava nas veias dos mamutes.


Fonte: DN Ciência por FILOMENA NAVES

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