sábado, 11 de janeiro de 2014

Qual a melhor forma de fazer a barba?


Ok, hoje acordas-te, foste à casa de banho. Deste a tua urinadela matinal, farpaste-te (claro!), e olhaste-te ao espelho. Viste a barba de quatro dias que tinhas na fronha e pensas-te, “foda-se, não me apetecia nada fazer esta merda. Qual a melhor forma de fazer a barba?”.

Se chegas-te a este ponto, aviso-te já, tás fudido. Primeiro, não há forma perfeita de fazer a barba, é sempre chato como o caralho. Segundo, vais começar a amaricar tipo White Castle. Vais começar a procurar soluções na net, naqueles blogues sobre moda e mais o caralho. Começas a usar bálsamos xpto, mais o esfoliante de “nhanhã” de caracol, mais a gilete 1001 lâminas. A usar os termos técnicos e snobes pré-shave e after-shave, (tradução: antes de barbear e depois de barbear, caralho!). Vais-te preocupar com o “irritar de pele”, “lesões”, “problemas dermatológicos” e foliculite - mais conhecido como, filha da puta do pelo encravado.

Depois de procurar, investigar, escrutinar, indagar e uma quantidade enorme de perda de tempo, finalmente, fazes uma listinha com os passinhos todos. Numerados por ordem alfabética, cardinal ou numeral.

Atenção! Muita atenção! Agora é que a rolha desenrosca. Quando dás por ti, estás a ter mais trabalho do que dantes e a barba continua a sair a mesma merda, de sempre! Desesperado, pensas, “é melhor fazer a depilação a laser da barba”.

Eu não disse que ias dar em White Castle e “metrofudido”?

Sinceramente, mas quem é que raio vai procurar artigos na net sobre a melhor forma de fazer a barba?

Sê homem caralho! Põe-me mas é água fria nesses pelos, ensaboa-me essa merda e siga com a navalha.

E dizes tu. - Ah, mas eu sou novo e não tenho experiência.

Ó meu filho, primeiro, vai colocar caca de galinha nesses pentelhos que tens na fronha. Depois, vai falar com um macho.


Atentamente,
Mário Viterbo Silva


quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Ca frio!!!




“A crise retesa-nos a alma tal como o frio nos retesa a carne.”

Bravo! Bravo! 

E, em homenagem a esta fabulosa frase, que me ocorreu enquanto estava na casa de banho (a tomar um duche, claro!), posto hoje, uma ajudinha para estes tempos difíceis.

Tal como a frase sugere, a crise veio para ficar e o inverno está à porta por alguns meses (vá lá, uma boa noticia, para além do fim do mundo, claro!), por isso, convém conter os custos elétricos. Ou, pelo menos, saber quanto gastamos em ter 5 aquecedores ligados 24 horas por dia.

As contas são fáceis pessoal! Ora ai vai:

Calculo do consumo dum equipamento que tenho em casa.

1. Identifique a potência (Watt) do equipamento em causa. Normalmente os fabricantes indicam esse valor numa chapa ou etiqueta colocada de lado ou na parte de trás do equipamento. Se não existe essa indicação, mas apenas a intensidade de corrente (Ampere - A) e a tensão (Volt - V) são fornecidos, faça o seguinte cálculo:

A X V = Watt

(Em Portugal a tensão da rede é de 230V)

2. Determine o consumo mensal do equipamento, multiplicando os Watts pelo número de horas de utilização mensal do equipamento. Por exemplo, se uma lâmpada fluorescente (36 W) está ligada 8 horas por dia, então por mês estará ligada 240 Horas (8x30 dias). O seu consumo mensal será de:

Watts X horas utilização = Watts hora por mês

36 X 240 = 8 640 Watts

3. Determine os Kilowatt hora (kWh) consumidos por mês:

Watt hora por mês / 1000 = kWh por mês

8 640 / 1000 = 8,64 kWh

4. Finalmente se quiser saber o custo deste consumo basta multiplicar os kWh por € 0,1011 (no caso da tarifa simples).

8,64 kWh X 0,1011 = 0,8735 €

Ok, admito, estes cálculos foram completamente plagiados do site da EDP. Como vêem nem me dei ao trabalho de mudar nada. Mas, por mais que procurasse, por incrível que pareça, nenhum blogue conseguia explicar de forma simplificada o custo elétrico de um equipamento. Apareciam-me sempre com cálculos estranhos e reduções de unidades de medida completamente desconhecidas. 

Pensei então: “Txiiii”, ganda volta”. Por isso ninguém percebe nada de nada, e nem saímos da cepa torta. Ecletismo filho da ****.

Mas, voltando ao assunto, se ainda não sabem como calcular, não se preocupem. Basta-vos aplicar a regra de 3 simples. Vejam o seguinte exemplo para os aquecedores.

Quero saber quanto gastam por hora os meus 5 aquecedores ligados 24 horas por dia.

Imaginem que os meus aquecedores têm 2000W cada.

1kWh equivale a € 0,1011.

Então, primeiro tenho que reduzir 2000W a kWh. Como faço isso? Divido por mil.

Sendo assim, dá 2kWh.

A seguir, regra de 3 simples. Se 1kWh custa 0,1011 €, então faço (2kWh * 0,1011 €) / 1kWh = 0,2022 €.

Se o meu aquecedor tem 2000W então gasto 0,2022 € numa hora. Se tiver 5 aquecedores gasto 0,2022 € * 5 = 1,011 €.

Como estão ligados 24 horas por dia gasto 24 * 1,011 € = 24, 264 €. No fim do mês (sem intervalos) equivale a 720 horas. 720 * 1,011 € = ****. FONIX!! Vou desligar os aquecedores. Mais vale rapar frio!...

Resumindo, é só reduzir e multiplicar pela tarifa por hora. Depois multiplicar pelas horas que o aparelho estiver ligado. Fácil J. Fiquem bem!


quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Milhões! O que fazer?

É recém totalista do Euromilhões, herdeiro de uma fortuna recentemente
desvendada, ou qualquer outra pessoa com uma avultada quantia de dinheiro?
Se é, estas dicas são para si. Se não se enquandra em nenhum dos perfis
descritos anteriormente, não desanime, já somos muitos!
Deparo-me diversas vezes com pessoas, amigos, conhecidos e até
desconhecidos, sempre com a frase mais usual quando o tema "euromilhões"
é abordado... "Ai, eu não sei o que faria com tanto dinheiro..." Pois
caros leitores, esta é a resposta ás vossas preces, o Esgoto de Ideias
sugere-vos como o fazer.

Comecem por colocar entre 30 a 50% do capital aplicado.
Ajudem quem já vos ajudou em tempos, não esquecendo como é óbvio, a família.
Trate de mudar de número de telemóvel, esqueçam toda a vossa lista de contactos.
Mantenham apenas contacto com quem sempre se preocupou consigo, principalmente nos maus momentos.
Digo isto porque se não fôr suficientemente discreto, verá pessoas que pensou terem imigrado, de um momento para o outro se lembrarem de si...
Trate de comprar uma casa em cada Continente (numa primeira fase).
Contrate dois amigos especializados em cobranças difíceis, conte com eles para eventuais problemas.
Não case em comunhão de bens adquiridos, não vá o Diabo tecer...
Tendo estes tópicos alinhavados, segue-se a fase mais importante do que fazer com o seu dinheiro, neste caso, o que resta dos 50%.
Lamborghini, Ferrari, Porsche, Aston Martin, Maseratti, Rolls Royce, Bentley e tudo o que cheire a estofos em pele cosidos á mão serão nesta altura
o mais acertado a comprar. Pode esquecer tudo o que sempre sonhou. Mercedes? Audi? BMW? Isso é coisa de construtor cívil. Não se preocupe com o preço dos
combustiveis, esses serão o mínimo dos gastos.
Las Palmas, Ibiza, Benidorm, são destinos a evitar. Não pense em ir de férias... Pense que o resto da sua vida será férias. Isso mesmo, leu bem!
Pequeno-almoço em Paris, almoço em Londres, jantar em Roma? Parece-lhe bem? Também a nós.
Seja você mesmo, cheios de "novos ricos" andamos nós fartos. Não pense em ir matar o bichinho ao KFC com sapatos de verniz, calças vermelhas, e camisa com lantejoulas.
Porquê chegar ao bar da moda no seu novo Maseratti quando o pode fazer de helicóptero?
Jarvas ou Tomé, são os nomes que deve adoptar ao contractar um mordomo que esteja á sua disposição 24 horas por dia.
Esqueça relógios, não vai ter tempo sequer para olhar para eles com tanto dinheiro que tem para gastar!







quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Fatura?...


Por vezes é impossível contornar o mal. Evitar o erro dos outros. Que um amigo esmurre a cabeça na parede. Quantas vezes já avisei: Não vás por ai, não adiantando de nada. Quantas vezes já me avisaram: Por ai vais-te enterrar, mesmo assim, lá fui eu para o auto-enterro. Faz parte da vida, do crescimento, ou do que lhe queiram chamar.

No entanto, quando falo desta incapacidade para reverter o mal dos outros, estou a falar do mal por mal, do erro consciente, deliberado e propositado. Não no erro da inocência, como quando uma criança mete a mão no fogo, por não saber que queima. O que pretendo falar é sobre outra coisa e sobre as implicações reais desse comportamento nato. Para isso, dar-vos-ei um exemplo pessoal.

Desde tenra idade fui um aluno medíocre, preguiçoso e pouco maduro para poder atingir certas matérias. Como resultado as negativas sempre se acumularam. Passei sempre de ano com duas ou três negativas. A português, a matemática e a inglês era um “0-“ (zero à esquerda). E isto desde a quarta classe.

Lembro-me perfeitamente das minhas primeiras negas, minha mãe ficou tão desiludida que me deu um enxerto de porrada. Ok, até pode não ter sido um “enxerto”, mas como qualquer criança com 9 anos de idade maximizei o acontecimento. Por isso, o pouco pareceu muito.

A partir dai, sempre que apresentava uma negativa, minha mãe gritava, berrava, ralhava e eu ganhava umas bofetadas. Independentemente disto, continuava a minha má progressão escolar. Apesar da minha mãe, pelo reforço negativo, me tentar fazer bom aluno, não conseguiu. Aliás, a certa altura comecei a mentir sobre os testes e a esconde-los. Ou seja, a situação piorou.

Cá está, o ponto fulcral do que quero transmitir. Eu, mesmo sabendo que fazia mal em mentir, preferia-o em vez das estaladas. E, por mais que alguém me viesse dizer para não mentir, continuaria na mesma. Faz parte da natureza humana, escolher uma desprazer menor para evitar um desprazer maior. Levando o exemplo ao extremo, é matar para não ser morto.

Chegando onde quero, à política. Imaginem o governo como a minha mãe e o povo como eu. O governo bate nos contribuintes, aumenta os impostos, corta suicídios, corta aqui, corta ali. Famílias desempregadas, dividas acumuladas, empresas fecham, ordenado diminui, preços aumentam. Ainda por cima, a maioria dos contribuintes sente que não mereceu por tal estalada. Então, o que é que o povo (como eu quando criança) faz? Exatamente, mentir e esconder.

Por isso, senhores políticos, bem-vindos à corrupção que tentaram diminuir, ao trabalho clandestino, à obscuridade. Se é com fatura ou sem fatura, já não será preciso perguntar, aliás, já não é.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Quem é que nos fodeu a todos?




Já que está tudo a falar de Crise, Troika, Passos Coelho, TSU, Orçamento de Estado, do habitual Está Tudo Fudido, eu pensei, porque não eu escrever sobre estas merdas, possa ser que o pessoal finalmente se interesse a ler os meus textos. 

Ah? Que tal a ideia?

Sendo assim, passando à frente da minha própria crise pessoal de ideias, palavras e criatividade, passo a perguntar: quem é que nos fodeu a todos?

E é aqui, neste busílis, que tropeço vezes sem conta. Neste engodo entrelaçado de ladainha politica que a televisão me chuta todos os dias, quando sucessões de governos se defendem culpando o governos anteriores a si pelo sucedido, quando políticos repetem discursos, mentiras, comportamentos, atuações, posturas, ideias, falácias, etc, etc, etc. Falam mal disto e daquilo e daqueloutro. E soluções? Onde?

Bem, depois de ouvir esta cagada toda, da qual já estou cansado, mesmo só tendo 28 anos, depois de me arrancarem a fé no futuro, depois de desesperar com a Crise e ver o orçamento pessoal a ficar reduzido, depois de ter vendido o carro, porque o autocarro é mais barato, passamos para outro ato televisivo surreal, os anúncios da Cofidis. Aqui, apresenta-se uma senhora, bonita, meia-idade, classe média-alta, a dizer que fez um crédito na Cofidis. E com que objetivo fez esse crédito? Ora, nada mais, nada menos, tcham-tcham: para fazer uma sala de cinema em casa.

WTF? Mas que caralho é esta merda? Andam a gozar comigo? O país de tanga, um gajo a sufocar em crise e vêm-me com anúncios destes? Uma sala de cinema em casa!!??

Ó Cofidis, ó Consumismo, ó Crédito, digam-me lá, quem é que nos fodeu a todos?


“-Pá, esquece lá isso, vamos ver a casa dos segredos.”




sexta-feira, 6 de julho de 2012

donzela


surge o sol pela neblina cerrada
ouço as ondas
batem os sons
na madrugada
confundo o azul
o céu
misturo-o na areia da praia
e o branco
o mar
conflui-se no ar

olha, a donzela à janela
rosto vidrado
olhar abstrato
no horizonte de si
oh, espera só mais um pouco
inquieta
teu peito
na saudade de mim

um pássaro que voa
uma,
longa,
brisa
do ar…
a espuma que arrefece na areia de uma onda
há mar e mar
há que ir, e voltar…

segunda-feira, 7 de maio de 2012




Para quem ainda não sabe,

É com muito prazer que anuncio o meu primeiro livro “Colecção Obsessiva de Sentimentos”, publicado através da Corpos Editora, ilustração Ana Lógica.
Trata-se de um conjunto de poemas, crónicas e contos existencialistas. O seu lançamento terá lugar na Casa do Alto, dia 19 de Maio, pelas 19 horas.
Terei todo o gosto em vos receber.
Confirmem através do meu email ou do link https://www.facebook.com/events/377235515661201/.

Cumprimentos,
Mário Viterbo e Silva


terça-feira, 1 de maio de 2012

Complexo


A saliva escorre pelo queixo.
A fome bate nas paredes estomacais.
Dentes amarelos, castanhos, verdes, bafo a vermes.
Guincha naquele quarto, naquele cubículo, meio metro quadrado.
Preso, encurralado.
Quer matar, quer comer, quer foder.
Quer, só por querer…
Sentir a vida do outro a escoar, o orgulho a se esvair, o medo, a morte a subir.
Grunhido após grunhido esporra,
Enche de seiva a masmorra.
Bate, cabeceia, esmurra, planeia.
Naquele espaço, sonha, baixo, o dia da ceifa.

O mundo movesse, gira constantemente, agitadamente, ignorantemente.
Esquecendo-se, mentindo-se,
Nada aberra, no oculto da serra.

Os locais sabem, tremem, rezam, esperam, calam, desesperam.
Protegem-se com o sangue do cordeiro.
Mas, nada pára os guinchos do bezerro negro, nascido da imaculada virgem violada.
Sacodem as árvores, penetram nas casas, enlouquecem a alma.

fujam
fujam
os muros estão a ficar gastos.

ou matem
matem
aclamem-lhe a cólera tingida.

Seus braços, retorcidos, esgadelham as costas com arranhares repetitivos.
Crava as unhas na pele grossa, chagas putrefactas, espasmos estereotipados,
                                                                                             Olhos revirados.
Quer…
Dêem-lhe…
É imortal.
Voltaria,
outra vez,
novamente,

mais e

mais e

fome.

Por isso, matem por ele, dilacerem por ele, cortem-se por ele.
Alimentem os Eus, o Complexo Monstro premente,
Que geme na serra da nossa mente.

Despertar para dentro de mim


…preto…
…branco…
…preto...
…como será despertar de um sonho? Disso eu lembro-me. Mas…
…branco…
…preto…
…cinzento…
…como será despertar do real?
Talvez… talvez seja como acordar com ressaca.
A típica dor de cabeça, a boca seca a saber a sarro, a aguçada alfinetada da sensibilidade à luz.
Mas isso… Bem, isso é um acordar para a realidade depois de um sonho mal construído.
Agora, um acordar da realidade é algo… Pelo menos o acordar da minha realidade. É assim… como a ressaca, mas a dor… essa não é na cabeça, a secura a saber a sarro não se limita à boca. A luz, não se espeta como agulhas pelos olhos, perfura-me o ser num local fora de mim. E, o som… o som é… É como o chiar de centenas de melros, penetrando lentamente, no nosso torpor sossegado.
E foi assim. Foi assim que me vi. Foi assim que me senti, lentamente, a despertar para dentro de mim.
A primeira coisa foi o piar imperceptível dos melros. O resto, veio por acréscimo.
Senti-me pesado, bêbado, charrado, numa bad trip.
Mas… não era eu.
Aliás, não era só eu. Todo o espaço confluía de mim para mim, num pesado, vertiginoso, sufocante movimento. O frio do chão começou-me a incomodar. O cheiro… Cheiro arranhado de caca de pássaro.
Abri os olhos. Levantei-me tropegamente.
Pensei… Vi… Imaginei…
Cinzento…
Cercava-me um género de pombal. Caca de pássaro estendia-se por todo o lado. Manchava tudo de branco e de preto, resultando numa mescla sépia, peganhenta, fedorenta.
Os vidros erguiam-se, desde a base até ao telhado, manchados num tumulto de cagadelas que me impediam de ver lá para fora.
O tecto, de acrílico, misturava-se na cor suja do céu, aprofundava-o. Um céu preto, branco, cinzento, sulcado e desenhado por centenas de melros, pousados, pendurados nas traves horizontais do pombal. Chiavam ininterruptamente, martelando irritantemente, penetrantemente. Cada vez mais alto num agudo crescente.
Franzi a testa. Levei as mãos às têmporas.
Lentamente percebi a irrealidade estranha que me cercava.
Sustive a respiração.
Olhos, milhares de olhos. Pontos negros, fixos, cegos.
Miravam-me. Escrutinavam-me.
Apesar de todos estes olhos piarem num estrondoso grito, nenhum bico se movia, nenhum pássaro reagia. E eu… Agonia.
Foda-se!...
Pensei...

terça-feira, 17 de abril de 2012

Para ti,

Para ti,
A quem nunca mais disse nada,
Perdoa-me
Ter virado costas,
Seguir centrado um outro trilho.
Sou assim, desculpa…
Parece que não me importo,
Parece que me esqueço.
Garanto-te, só pareço.

Lembras-te?
Risos e sorrisos.
Abraços fortes e precisos.
Comunicação abstracta, telepática.
E o olhar,
Repouso de desabafos imprecisos.

Tu,
Como quem diz eu,
Oleador do ego.
Sempre serás mais do que uma emoção.

Para ti,
Sensibilidade que me inflamas,
A quem nunca mais disse nada.
Quando um dia, por acaso, te vir,
Reconhecer-te-ei,
E um simples olá de direi.

Até lá, aqui, comigo,
Intimo Amigo.


A Subjectividade do Síndrome de Peter Pan


A criança que existe em mim, quase sempre, domina o adulto que sou.
Manipula-o.
Por causa disso não socializo, não saio, não me divirto.
Quando isso acontece, ela birra e desespera.
E, quando todos os adultos se encontram no formalismo de conversas intelectuais, ausentes de sentido pessoal algum, logo fico com uma incrível pressão cerebral, que me faz peidar verbalmente.
Arroto um vocábulo estranho pela goela.
Ou será pelo rabo?...
Franzem os adultos as orelhas, fazem moucos narizes.
Piadas… Piadas… Estupidas e despropositadas. Gargalham só na minha mente.
Ninguém alcança o adulto subentendido nelas.
Crianças preocupadas de mais com a sua adultez, com a formalidade de comportamento adequado moralmente.
E, isso é a reacção às minhas graças, porque a reacção a comentários sérios é de um nível muito mais evoluído de eloquência. Desde respostas do género “sim porque sim” e “não porque não”, até aos braços de ferro emocionais de melhor argumento.
Fico ainda mais criança, perplexo perante este enredo.
Crianças, a brincar à razão.
O meu adulto finge que não entende…


quarta-feira, 11 de abril de 2012

Ectoparasita hematófago


O medo é uma carraça que se gruda à pele e me chupa.
Infecta-me com ideias
Parasitas. 

Febres, suores frios, fraqueza, delírios.
Arritmias compassadas,
Artrite e dores inchadas.
Absorve o raciocínio,
Descontrola o instinto. 

Incha guloso e ávido, o carrapato.
Caio árido, por terra fatigado.
Como é que uma coisa tão pequena,
Se apodera assim do sistema.
O espirito lato, crente,
Desilude-se por ver a carne em rente. 

Carraça maldita, feia, troglodita!
Absorves a ilusória arrogância com que vivo,
E mirro. 

Esperança! Esperança!
AHAHAHAHAH!
Um resto de loucura alcançada. 

Procurar, procurar, sobreviver, encontrar-te,
Naquela fissura escura da minha pele.
Pegar numa pinça,
Bicha esquisita, verto-te agora álcool em cima,
Arranco-te, corto-te,
Queimo-te a cabeça,
Agarrada à zona endémica. 

Depois…
Uns paracetamóis, antibióticos e mais uns sais.
Para não pensar, em paraideias. 

Da próxima vez que me saltares em cima, bicho,
O sistema imunológico vai-te reconhecer,
E eu não sofrerei mais, desses teus beijos mortais.
Estarei protegido dessa tua doença vampiresca,
Pelos glóbulos loucos de nascença.



Catarse da morte


Antes que eu morra,
Põe-me um cigarro na boca. 

Não adianta, não vale a pena,
Não chores a me confortar. 

No meu corpo, não me consigo mover,
Vegetativo, trôpego.
Por isso, tens de ser tu a tirar o maço,
A pousar-me o “very-light”, aqui, no lábio.
Acende o isqueiro.

Mas primeiro tens que o montar.
No bolso esquerdo está o  “euta-” ,
No direito o “-nasia”,
Junta os dois que eu inalo… 

Relaaaaaaaaxo 

Tu sabes, tal como eu sei,
Tanatos, ai vem… 

Acompanha-me…. Fica…
Neste fumo que nos amortalha. 

Sente-o
Pela garganta
Escorregando
                        Em
                        Doce
                        Mel
Sua voz bafienta. 

É assim!
É assim que se o enfrenta.
Com uma passa de coragem laça, com um último prazer,
A catarse de morrer!


quinta-feira, 5 de abril de 2012

Sobre mim


Sobre mim: cai o peso de toda uma conotação. Um estereótipo que imagino quando olho para os olhos que me fixam, que me obrigam a me fixar.
Por isso, jamais serei e saberei o Real de Mim mesmo, porque sou o que os outros pensam, confundido pelo que me levam a indagar.
E porque a Realidade se ofusca quanto mais afastadas forem as perspectivas, busco-me por detrás do olhar dos outros, nunca perdendo nunca as minhas.
Mesmo assim, tudo não passa e sempre será, uma mer(d)a estereotipia.
...

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Insónia



Sete e meia da manhã.
Porra porra porra porra! Vá lá por favor vá lá por favor!
Novamente durmo mal outra vez novamente.
Doí-me o lóbulo frontal corrói-se-me o estomacal ventre.
Não estou descansado e nada me deixa descansar.
Alguém, algo, alguma coisa, faça-me parar.
Mas porque porra quando durmo, me vem sempre à cabeça, não a Vida mas o dia-a-dia?
Porque a Vida é algo muito mais lato, metafisico, abstracto.
O outro é porqu’é simples, e baseia-se no prático.
No entanto, já não sei o que penso, ou o que devia pensar, e confundo-me em sentimentos sobre o que devia raciocinar.
Revoluteio-me, na cama, constantemente me maço, com a almofada.


Entra o sol no meu quarto, destapando as cores que se escondem, e olho para o meu pálido lençol, atentamente, divagando em nada.
Na sua brancura observo um ponto, um ponto que aos poucos se insinua.
Parece-me mexer-se…
Foco-me, nele, e tento entender o que é. O que era suposto não estar cá lá, mas está…
Exalto-me de nojenta repulsa. Uma larva de mosca, gorda, castanha, asquerosa, arrasta-se como uma víscera atrofiada, enroscando-se nas suas espirais.
Meu sistema digestivo contrai-se numa dor enjoativa.
Percepciono um ligeiro formigueiro nas pernas.
Entro em pânico por imaginar o que significará e descubro-mo instantaneamente.
Confusão!, medo!, sufoco!
Compelem-se larvas pela minha pele, mexem-se em buracos na carne dos meus pés, nas minhas coxas, no abdómen, no peito.
Comem-me...
Aceleram, lentamente, a minha putrefacção.


Acordo com um espasmo.
Doí-me o estômago…
Doí-me a cabeça….
Em manhã cedo,
Ainda cansado…


segunda-feira, 2 de abril de 2012

Eu, onde estás?...


Eu gostava…
Que a chuva sempre caísse assim…
Morna dentro de mim…
E afastasse esta…
Melancolia repetitiva. 

Eu gostava…
De não voltar atrás…
E caminhar para onde tu estás… 

Meu Eu fora de Mim…


quarta-feira, 21 de março de 2012

Por ti


Espero por ti,
Não te preocupes.
Estarei lá, naquele lugar
Onde o Sol raia e aquece
E a Esperança sempre se reflecte. 

Lá, ali, aqui
Neste dourado espaço,
Espero sem pressas,
Com um sorriso,
Com um abraço,
Com um riso de regozijo,
Por saber que esperas também
Este destino. 

Tu, que caminhas pela sombra,
Que por razões só tuas escolhes o vento frio da solidão.
Sabe,
Que eu nasço sempre com o Sol,
Quente, para repousares,
Para te amar sem me amares.


sábado, 3 de março de 2012

Faça-se chuva!

O meu humor flutua ao sabor do tempo.
Não percebo. Não sou eu que o domino. Não. Sou apenas um mero espectador sem forças para me impor.
Se o sol aparece sou pateticamente feliz. Se as nuvens se insinuam sou estupidamente triste.
Nem adianta lutar. Tentar impingir-me a mim mesmo alegria em céu negro e escuridão em céu aberto.
Não me governam os Deuses, ou o tolo do destino (porque não acredito em nenhum deles). Mas a madrasta da natureza domina-me. E hoje, passou o dia todo a ameaçar-me. A prometer que me daria uma porrada de chuva.
Podia cair o Carmo e a Trindade, chover sapos, bolas de gelo, meteoros, podia chover a cântaros, grossas gotas, encher tudo, molhar tuto, arrastar toda a depressão pelo esgoto abaixo.
Mas não. Nem chove nem deixa chover.
E eu aqui, com vontade da molha, da água a escorrer-me pelos cabelos, da nostalgia, do enredo, do som, do movimento, da frescura da sua cura, de ir lá fora ser lavado por dentro.
Mas hoje, o dia não esteve para ai virado. E tem andado a enconar durante meses.
Quando fica assim, eu fico como ele, sou como ele, o limiar entre o ser e o não-ser, a margem de mim, a seca.
Ele brinca com os meus sentimentos, enubla o meu pensamento, frusta todas as minhas tentativas de ser bem, alegre, solarengo, calorento, radiante, esperançoso, confiante.
E fico assim, parado, cinzento… Uma puta de merda de tempo…

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Credo do Ego


Creio no Ego,
Eu Todo-Poderoso, Criador da Vontade,
De todos os Comportamentos.
Creio em uma só Motivação, Egoísmo,
Filho Uno do Ego, nascido do Self antes de tudo o resto;
Eu do Eu, Altruísmo do Altruísmo,
Eu verdadeiro do Eu verdadeiro;
Não gerado, não criado, inerente ao Self.
Para Ele todas as coisas foram feitas.
E por nós, Seres, e para nossa sobrevivência surgiu,
E encarnou pelo poder da evolução
No seio da Mente, e Se fez Vontade.
Também por nós foi mascarado sob a Negação,
Padeceu e foi recalcado.
Ressuscita sempre, conforme escrito no ADN;
E sobe à Psique,
Onde se senta ao lado do Ego;
De novo há-de vir em Sua defesa, para buscar o Bem e o Mal;
Pois Seu caminho não tem fim.
Creio na Vontade Primordial,
Centelha que dá a vida, que procede do Eu e do Egoísmo;
E com o Eu e o Egoísmo é adorado e glorificado;
Ele que fala pelos Condicionalismos.
Creio nesta Vontade una, pura, universal e hereditária.
Professo um só início, para admitir que Altruísmo, é só um aspecto do Egoísmo.
E espero a ressurreição da verdade
E a compaixão que há-de vir.
Ámen.



sábado, 25 de fevereiro de 2012

Toda a gente se parece com toda a gente

Toda a gente se parece com toda a gente. Não é só o meu pensamento estereotipador a atuar, é muito mais que isso.
As pessoas estereotipam-se a si mesmas.
Facto inegável é a nossa adoção (consciente ou inconsciente) de estilos idênticos aos do grupo com o qual nos identificamos: a fala; o andar; o vestir; entre outras coisas.
Mas incomoda-me. Angustia-me o facto de eu não conseguir não estereotipar.
Sinto que, por todos quererem ser identificados com algo, e, mesmo os que não têm essa intenção inevitavelmente o serem, a minha mente é forçada a estereotipar.
Por isso, ao andar pela cidade de Lisboa olho para todas as pessoas como se apontasse o dedo classificador: pobre; rico; extremamente pobre; novo-rico; classe alta; classe baixa; trabalhador; sem-noção; porco; beto; beta; meninos da mamã; convencido; convencida; arrogante; infeliz; cansado; bem-disposto; divertido; top-model; snob; estrangeiro; indiano; italiano; africano; lisboeta; nortenho; guna (chunga); dondoca; homossexual; empresário; empresária; macho-men; empreiteiro; trolha; desconfiado; inteligente; confiante; hip-hoper; confiante; simpático; humilde; secretária; intelectual; cota; manipulador; passivo; defensivo; toxicodependente; alcoólico; VIP; azeiteiro; personagem da televisão (Chuck Norris, Sylvester Stallone, Arnold Schwarzenegger, Britney Spears, Angelina Jolie, etc); e mais todos os outros estereótipos inimagináveis.
Que se passa na minha cabeça quando vagueio por estas ruas lisboetas? Que se passa enquanto circulo de autocarro em autocarro, ou me insiro de metro em metro? Como fujo a este esteriótipo mental que me faz ver o mundo em quadrados? Quem me ajuda a montá-los?
O aglomerado urbano estendesse tão largamente que cria novos grupos e aumenta os grupos já existentes. É impossível ninguém se parecer com ninguém.
Deixo-me influenciar pela dimensão, pela mensagem que as pessoas através do aspeto querem transmitir, pelo reflexo que não conseguem evitar. Rotulo. Tento ver para além das evidências, mas não consigo. A imagem barra a minha perceção ao verdadeiro ser do Ser Humano. Essa caraterística que eu não me esqueço. Que aquele à minha frente é um Humano como eu, com dramas como os meus, pensamentos idênticos aos meus, alegrias e tristezas tão fortes como as minhas.
Enfim, dou por mim idêntico aos de mais. Mais um Humano sem Ser, ou mais um Ser sem Humano? Mais um qualquer absorvido pelas repetições banais.
Por isso penso: e eu, com quem me parecerei?