segunda-feira, 28 de novembro de 2011

MoreThan 100Words

OK pessoal… Alguém me pode dizer se o MoreThan 100Words é algum novo culto religioso? É que, sinceramente, não consigo entender. Sempre que entro no Facebook aparecem-me dezenas de actualizações desta coisa, e por vezes dezenas, de uma única só  pessoa.

Primeiro, já não bastava aquele pessoal que actualiza o estado durante 24horas ao dia: “Arrotei agora, posta isto se gostas”, “Amo a vida, posta se sentes o mesmo”.
Tipo!...
Já não me bastava a publicidade durante meia hora na televisão, os mil e um panfletos que me enfiam na caixa de correio, a Meo e a Zon sempre a bater à porta, a Sumol a dizer: “se não beberes Sumol um dia vais pensar que sair à noite é ir pôr o lixo na rua”; já não me bastava a igreja católica, a ortodoxa e a anglicana dizerem para não fazer sexo antes do casamento nem usar preservativo, ainda tenho que levar com dezenas de imagens da MoreTham 100Words. Com frases pirosas, lamechas e idealistas que pretendem ter a pretensão de verdades absolutas. Género: “Segue os teus sonhos, não o que as pessoas dizem”. Eheh… Adoro contra censos...
A ideia até está porreira, para quem gosta destas piquices. Está original e criativa. Mas, por favor. Não passem 24 horas, mais mil e uma vezes, a clicar gosto no raio das fotos. É que depois, aparece mil e uma vezes no meu feed de notícias algo que eu nem aprecio, que acho banal, foleiro e piroso, como a publicidade da Optimos, TMN, ou Vodafone. E se dantes já não gostava, de repente, passo a detestar.
Por isso pessoal, se querem criar um novo culto religioso, não o façam em minha casa, e por favor não me venham cantar à porta todos os dias.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Um dos meus raros momentos a pensar em política.

Alguém disse: “podemos pensar numa política sem ética, mas nunca numa ética sem uma política.”
Ora aqui está uma interessante afirmação, mas antes de a poder comentar, penso que o melhor será tentar esclarecer do que trata a ética e do que trata a politica.
Em relação à ética, vou utilizar a definição de Fernando Savater: a ética ocupa-se de administração que cada qual faz da sua vida, para seu próprio bem.
No início, esta afirmação pareceu-me um pouco seca e insuficiente. Mas, mais tarde percebi porque Savater não especifica o que é o mal e o que é o bem, ou porque não acrescenta que a ética se ocupa da administração “justa” que cada qual faz da sua vida.
Porque o justo e o injusto, o bem ou o mal, dependem do foro individual de cada um. O mais importante é que ao definir o que é o mal e o que é o bem, estaria a delimitar o crescimento individual do sujeito. A ética não se ocupa em definir no geral quais as escolhas boas. Pois assim sendo cairíamos no determinismo, na recusa da responsabilidade e no fim da liberdade. Por isso, a ética só se ocupa em definir o bem individual.
Aqui entra a política. Ora, como o bem individual pode variar de sujeito para sujeito, a política trata de definir o bem comum. Implementa-o em códigos e leis, para que escolhas éticas não entrem em conflito. Mesmo assim, a política não decide o que é o mal e o que é o bem ético, apenas o organiza conforme as necessidades sociais.
Por isso a ética não pode existir sem política, pois sem esta seria o caos.

Estranhamente, pensar numa política sem ética já é possível, pois a politica parte de objectivos mais colectivos do que individuais. Pode muito bem utilizar métodos não éticos individualmente, para chegar a resultados bons para o colectivo. Por exemplo, obrigar os cidadãos a ir à guerra, autorizar a pena de morte, e por ai fora. Estes são exemplos que variam eticamente de pessoa para pessoa.

Infelizmente estas não são as únicas definições de ética e de política. Muitos outros pensadores apresentam outras ideias para a dualidade entre ética e politica. Alguns encaram a ética como conduta boa e afirmam que política não deve existir sem ela. Esta também parece ser a definição geral que as pessoas dão a ética. Mas cuidado com esta definição, pois o bem, como já disse, é subjectivo. E a política não consegue ser sempre subjectiva, mas consegue ser sempre objectiva.

Concluindo, depois de reflectir e “dar uns nós cerebrais” a pensar em ética, penso que o ideal seria dizer, não que devemos pensar uma política com ética, mas sim numa política humanista. Sendo assim, segundo as minhas definições, os nossos políticos realmente parecem ter muita ética, mas muito pouca humanidade.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Danos colaterais

Este está optimista,
Este foi ao pântano,
Este olha para baixo,
O pequeno foi para casa,
Este ficou incerto.
Cheiros se revoltam ao longo do meu… de mim. Paro, não vejo. O cinzento encobre. Tudo é o mesmo. Só uma rua cheira de dejectos.
Sombras colam-se aos prédios, nos seus muros, nas suas portas, nos seus passeios. Confundem-se. Confundem-me. Iludem-se que não estão. Fingimos que não são.
À parte de algo à parte.
Piso em merda, cheiro a merda, enjoa-me a urina que escorre para o esgoto. Ao lado comem, ao lado… sofrem, ao lado morrem…
A podridão cresce e apodrece, e eu esqueço. Lavo-me, perfumo-me, distraio-me, a urina está cá, só não me cheiro.
Este está optimista,
Este foi ao pântano,
Este olha para baixo,
O pequeno foi para casa,
Este, encosta-se a um beco…


quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Ruído

Em momentos de nenhum descarrego a monotonia e cansaço praticando o nada. Esses momentos começam com a minha chegada a casa, mortinho por me sentar no fundo e acolhedor sofá.

Normalmente a luz florescente está gasta e preenche a sala com uma penumbra baça. Ligo a televisão e passo a rasgar pela multi-apelativa publicidade dos canais generalistas. Esfregam-me irritantemente a felicidade no focinho e tentam-me emocionar com reflexões profundas, que objectivam querer-me fazer erguer o seu produto como uma bandeira.

Passo pelo novo método publicitário que utiliza humoristas conhecidos, insiro-me pelos noticiários e pelo humor irónico e sarcástico da política. Um pouco de crise aqui, um pouco de crise acolá, um pouco de crise acolá-cá e já me parto a rir com a insustentabilidade e irrealidade do gozo.
Sentado no sofá percorro em zapping reality shows, mamas e cús, Dr. Phil, Oprah, Querido Mudei a Casa, Tyra, Masterchef, Biggest Loser, CSI Miami, Las Vegas e Nova York, encho-me com os adolescentes vazios da MTV, passo pelas leis da natureza do Nacional Geografic e termino novamente numa publicidade de tampões da RTP 1.
Foi uma boa prática do nada, que em nada me satisfez. Sendo assim, levanto-me do meu amolgado lugar no sofá e passo para o meu amolgado lugar na secretária. Desligo a TV e ligo o PC. Passo do zapping para o scrolling e mergulho no facebook.
Da publicidade impessoal e industrial passo para a publicidade pessoal e caseira. Scrolo lentamente à procura de alguma informação, mas as vidas repetem-se umas a seguir às outras. Os comentários, ou se tornam demasiado pessoais, ou demasiado fictícios e não consigo escolher que vidas ver. Cusco aqui, cusco ali e culpo-me por me estar a tornar como as vizinhas cuscas que detestava.
É tanta informação a aparecer no facebook, actualizações de estado, fotografias, vídeos, músicas, likes, grupos, partilhas, aquisição de amigos, mais carradas e carradas de comentários que não interessam para nada, que se torna tudo ruído. Uma estática constante, formada por milhares de pontos de informação.
Sigo adiante num hipnotizante scrolling. Procuro desvendar algo interessante, mas depressa me canso e perco o interesse nos pensamentos das vidas das vidas alheias. É demasiado ruído para os meus olhos.
Cansado desligo o PC. Saio para a varanda e olho a noite já chegada. Acendo um cigarro… pensativo… e fico a ouvir a chuva a cair. Finalmente… um ruído que me agrada.