terça-feira, 17 de abril de 2012

Para ti,

Para ti,
A quem nunca mais disse nada,
Perdoa-me
Ter virado costas,
Seguir centrado um outro trilho.
Sou assim, desculpa…
Parece que não me importo,
Parece que me esqueço.
Garanto-te, só pareço.

Lembras-te?
Risos e sorrisos.
Abraços fortes e precisos.
Comunicação abstracta, telepática.
E o olhar,
Repouso de desabafos imprecisos.

Tu,
Como quem diz eu,
Oleador do ego.
Sempre serás mais do que uma emoção.

Para ti,
Sensibilidade que me inflamas,
A quem nunca mais disse nada.
Quando um dia, por acaso, te vir,
Reconhecer-te-ei,
E um simples olá de direi.

Até lá, aqui, comigo,
Intimo Amigo.


A Subjectividade do Síndrome de Peter Pan


A criança que existe em mim, quase sempre, domina o adulto que sou.
Manipula-o.
Por causa disso não socializo, não saio, não me divirto.
Quando isso acontece, ela birra e desespera.
E, quando todos os adultos se encontram no formalismo de conversas intelectuais, ausentes de sentido pessoal algum, logo fico com uma incrível pressão cerebral, que me faz peidar verbalmente.
Arroto um vocábulo estranho pela goela.
Ou será pelo rabo?...
Franzem os adultos as orelhas, fazem moucos narizes.
Piadas… Piadas… Estupidas e despropositadas. Gargalham só na minha mente.
Ninguém alcança o adulto subentendido nelas.
Crianças preocupadas de mais com a sua adultez, com a formalidade de comportamento adequado moralmente.
E, isso é a reacção às minhas graças, porque a reacção a comentários sérios é de um nível muito mais evoluído de eloquência. Desde respostas do género “sim porque sim” e “não porque não”, até aos braços de ferro emocionais de melhor argumento.
Fico ainda mais criança, perplexo perante este enredo.
Crianças, a brincar à razão.
O meu adulto finge que não entende…


quarta-feira, 11 de abril de 2012

Ectoparasita hematófago


O medo é uma carraça que se gruda à pele e me chupa.
Infecta-me com ideias
Parasitas. 

Febres, suores frios, fraqueza, delírios.
Arritmias compassadas,
Artrite e dores inchadas.
Absorve o raciocínio,
Descontrola o instinto. 

Incha guloso e ávido, o carrapato.
Caio árido, por terra fatigado.
Como é que uma coisa tão pequena,
Se apodera assim do sistema.
O espirito lato, crente,
Desilude-se por ver a carne em rente. 

Carraça maldita, feia, troglodita!
Absorves a ilusória arrogância com que vivo,
E mirro. 

Esperança! Esperança!
AHAHAHAHAH!
Um resto de loucura alcançada. 

Procurar, procurar, sobreviver, encontrar-te,
Naquela fissura escura da minha pele.
Pegar numa pinça,
Bicha esquisita, verto-te agora álcool em cima,
Arranco-te, corto-te,
Queimo-te a cabeça,
Agarrada à zona endémica. 

Depois…
Uns paracetamóis, antibióticos e mais uns sais.
Para não pensar, em paraideias. 

Da próxima vez que me saltares em cima, bicho,
O sistema imunológico vai-te reconhecer,
E eu não sofrerei mais, desses teus beijos mortais.
Estarei protegido dessa tua doença vampiresca,
Pelos glóbulos loucos de nascença.



Catarse da morte


Antes que eu morra,
Põe-me um cigarro na boca. 

Não adianta, não vale a pena,
Não chores a me confortar. 

No meu corpo, não me consigo mover,
Vegetativo, trôpego.
Por isso, tens de ser tu a tirar o maço,
A pousar-me o “very-light”, aqui, no lábio.
Acende o isqueiro.

Mas primeiro tens que o montar.
No bolso esquerdo está o  “euta-” ,
No direito o “-nasia”,
Junta os dois que eu inalo… 

Relaaaaaaaaxo 

Tu sabes, tal como eu sei,
Tanatos, ai vem… 

Acompanha-me…. Fica…
Neste fumo que nos amortalha. 

Sente-o
Pela garganta
Escorregando
                        Em
                        Doce
                        Mel
Sua voz bafienta. 

É assim!
É assim que se o enfrenta.
Com uma passa de coragem laça, com um último prazer,
A catarse de morrer!


quinta-feira, 5 de abril de 2012

Sobre mim


Sobre mim: cai o peso de toda uma conotação. Um estereótipo que imagino quando olho para os olhos que me fixam, que me obrigam a me fixar.
Por isso, jamais serei e saberei o Real de Mim mesmo, porque sou o que os outros pensam, confundido pelo que me levam a indagar.
E porque a Realidade se ofusca quanto mais afastadas forem as perspectivas, busco-me por detrás do olhar dos outros, nunca perdendo nunca as minhas.
Mesmo assim, tudo não passa e sempre será, uma mer(d)a estereotipia.
...

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Insónia



Sete e meia da manhã.
Porra porra porra porra! Vá lá por favor vá lá por favor!
Novamente durmo mal outra vez novamente.
Doí-me o lóbulo frontal corrói-se-me o estomacal ventre.
Não estou descansado e nada me deixa descansar.
Alguém, algo, alguma coisa, faça-me parar.
Mas porque porra quando durmo, me vem sempre à cabeça, não a Vida mas o dia-a-dia?
Porque a Vida é algo muito mais lato, metafisico, abstracto.
O outro é porqu’é simples, e baseia-se no prático.
No entanto, já não sei o que penso, ou o que devia pensar, e confundo-me em sentimentos sobre o que devia raciocinar.
Revoluteio-me, na cama, constantemente me maço, com a almofada.


Entra o sol no meu quarto, destapando as cores que se escondem, e olho para o meu pálido lençol, atentamente, divagando em nada.
Na sua brancura observo um ponto, um ponto que aos poucos se insinua.
Parece-me mexer-se…
Foco-me, nele, e tento entender o que é. O que era suposto não estar cá lá, mas está…
Exalto-me de nojenta repulsa. Uma larva de mosca, gorda, castanha, asquerosa, arrasta-se como uma víscera atrofiada, enroscando-se nas suas espirais.
Meu sistema digestivo contrai-se numa dor enjoativa.
Percepciono um ligeiro formigueiro nas pernas.
Entro em pânico por imaginar o que significará e descubro-mo instantaneamente.
Confusão!, medo!, sufoco!
Compelem-se larvas pela minha pele, mexem-se em buracos na carne dos meus pés, nas minhas coxas, no abdómen, no peito.
Comem-me...
Aceleram, lentamente, a minha putrefacção.


Acordo com um espasmo.
Doí-me o estômago…
Doí-me a cabeça….
Em manhã cedo,
Ainda cansado…


segunda-feira, 2 de abril de 2012

Eu, onde estás?...


Eu gostava…
Que a chuva sempre caísse assim…
Morna dentro de mim…
E afastasse esta…
Melancolia repetitiva. 

Eu gostava…
De não voltar atrás…
E caminhar para onde tu estás… 

Meu Eu fora de Mim…