sábado, 25 de fevereiro de 2012

Toda a gente se parece com toda a gente

Toda a gente se parece com toda a gente. Não é só o meu pensamento estereotipador a atuar, é muito mais que isso.
As pessoas estereotipam-se a si mesmas.
Facto inegável é a nossa adoção (consciente ou inconsciente) de estilos idênticos aos do grupo com o qual nos identificamos: a fala; o andar; o vestir; entre outras coisas.
Mas incomoda-me. Angustia-me o facto de eu não conseguir não estereotipar.
Sinto que, por todos quererem ser identificados com algo, e, mesmo os que não têm essa intenção inevitavelmente o serem, a minha mente é forçada a estereotipar.
Por isso, ao andar pela cidade de Lisboa olho para todas as pessoas como se apontasse o dedo classificador: pobre; rico; extremamente pobre; novo-rico; classe alta; classe baixa; trabalhador; sem-noção; porco; beto; beta; meninos da mamã; convencido; convencida; arrogante; infeliz; cansado; bem-disposto; divertido; top-model; snob; estrangeiro; indiano; italiano; africano; lisboeta; nortenho; guna (chunga); dondoca; homossexual; empresário; empresária; macho-men; empreiteiro; trolha; desconfiado; inteligente; confiante; hip-hoper; confiante; simpático; humilde; secretária; intelectual; cota; manipulador; passivo; defensivo; toxicodependente; alcoólico; VIP; azeiteiro; personagem da televisão (Chuck Norris, Sylvester Stallone, Arnold Schwarzenegger, Britney Spears, Angelina Jolie, etc); e mais todos os outros estereótipos inimagináveis.
Que se passa na minha cabeça quando vagueio por estas ruas lisboetas? Que se passa enquanto circulo de autocarro em autocarro, ou me insiro de metro em metro? Como fujo a este esteriótipo mental que me faz ver o mundo em quadrados? Quem me ajuda a montá-los?
O aglomerado urbano estendesse tão largamente que cria novos grupos e aumenta os grupos já existentes. É impossível ninguém se parecer com ninguém.
Deixo-me influenciar pela dimensão, pela mensagem que as pessoas através do aspeto querem transmitir, pelo reflexo que não conseguem evitar. Rotulo. Tento ver para além das evidências, mas não consigo. A imagem barra a minha perceção ao verdadeiro ser do Ser Humano. Essa caraterística que eu não me esqueço. Que aquele à minha frente é um Humano como eu, com dramas como os meus, pensamentos idênticos aos meus, alegrias e tristezas tão fortes como as minhas.
Enfim, dou por mim idêntico aos de mais. Mais um Humano sem Ser, ou mais um Ser sem Humano? Mais um qualquer absorvido pelas repetições banais.
Por isso penso: e eu, com quem me parecerei?

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