Toda a gente se parece com toda a
gente. Não é só o meu pensamento estereotipador a atuar, é muito mais que
isso.
As pessoas estereotipam-se a si
mesmas.
Facto inegável é a nossa adoção
(consciente ou inconsciente) de estilos idênticos aos do grupo com o qual nos
identificamos: a fala; o andar; o vestir; entre outras coisas.
Mas incomoda-me. Angustia-me o facto
de eu não conseguir não estereotipar.
Sinto que, por todos quererem ser
identificados com algo, e, mesmo os que não têm essa intenção inevitavelmente o
serem, a minha mente é forçada a estereotipar.
Por isso, ao andar pela cidade de
Lisboa olho para todas as pessoas como se apontasse o dedo classificador:
pobre; rico; extremamente pobre; novo-rico; classe alta; classe baixa; trabalhador;
sem-noção; porco; beto; beta; meninos da mamã; convencido; convencida;
arrogante; infeliz; cansado; bem-disposto; divertido; top-model; snob;
estrangeiro; indiano; italiano; africano; lisboeta; nortenho; guna (chunga); dondoca;
homossexual; empresário; empresária; macho-men; empreiteiro; trolha;
desconfiado; inteligente; confiante; hip-hoper; confiante; simpático; humilde;
secretária; intelectual; cota; manipulador; passivo; defensivo;
toxicodependente; alcoólico; VIP; azeiteiro; personagem da televisão (Chuck
Norris, Sylvester Stallone, Arnold Schwarzenegger, Britney Spears, Angelina Jolie,
etc); e mais todos os outros estereótipos inimagináveis.
Que se passa na minha cabeça quando
vagueio por estas ruas lisboetas? Que se passa enquanto circulo de autocarro em
autocarro, ou me insiro de metro em metro? Como fujo a este esteriótipo mental que me faz ver o mundo em quadrados? Quem me ajuda a montá-los?
O aglomerado urbano estendesse
tão largamente que cria novos grupos e aumenta os grupos já existentes. É
impossível ninguém se parecer com ninguém.
Deixo-me influenciar pela dimensão,
pela mensagem que as pessoas através do aspeto querem transmitir, pelo reflexo
que não conseguem evitar. Rotulo. Tento ver para além das evidências, mas não
consigo. A imagem barra a minha perceção ao verdadeiro ser do Ser Humano. Essa caraterística
que eu não me esqueço. Que aquele à minha frente é um Humano como eu, com dramas
como os meus, pensamentos idênticos aos meus, alegrias e tristezas tão fortes
como as minhas.
Enfim, dou por mim idêntico aos de
mais. Mais um Humano sem Ser, ou mais um Ser sem Humano? Mais um qualquer
absorvido pelas repetições banais.
Por isso penso: e eu, com quem me parecerei?
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