terça-feira, 1 de maio de 2012

Complexo


A saliva escorre pelo queixo.
A fome bate nas paredes estomacais.
Dentes amarelos, castanhos, verdes, bafo a vermes.
Guincha naquele quarto, naquele cubículo, meio metro quadrado.
Preso, encurralado.
Quer matar, quer comer, quer foder.
Quer, só por querer…
Sentir a vida do outro a escoar, o orgulho a se esvair, o medo, a morte a subir.
Grunhido após grunhido esporra,
Enche de seiva a masmorra.
Bate, cabeceia, esmurra, planeia.
Naquele espaço, sonha, baixo, o dia da ceifa.

O mundo movesse, gira constantemente, agitadamente, ignorantemente.
Esquecendo-se, mentindo-se,
Nada aberra, no oculto da serra.

Os locais sabem, tremem, rezam, esperam, calam, desesperam.
Protegem-se com o sangue do cordeiro.
Mas, nada pára os guinchos do bezerro negro, nascido da imaculada virgem violada.
Sacodem as árvores, penetram nas casas, enlouquecem a alma.

fujam
fujam
os muros estão a ficar gastos.

ou matem
matem
aclamem-lhe a cólera tingida.

Seus braços, retorcidos, esgadelham as costas com arranhares repetitivos.
Crava as unhas na pele grossa, chagas putrefactas, espasmos estereotipados,
                                                                                             Olhos revirados.
Quer…
Dêem-lhe…
É imortal.
Voltaria,
outra vez,
novamente,

mais e

mais e

fome.

Por isso, matem por ele, dilacerem por ele, cortem-se por ele.
Alimentem os Eus, o Complexo Monstro premente,
Que geme na serra da nossa mente.

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